quinta-feira, 28 de maio de 2015

O que vem agora ?


2009, lá estava eu em Tiradentes disputando um XTerra quando vi uns loucos largando as 2 horas da tarde para uma ultra maratona de 50k, dai pensei, meu Deus esta turma não tem juízo correr 50 km deve ser loucura, naquele momento não me via em condições de um dia disputar tal distância... de lá pra cá muita coisa mudou, muita mesmo.
No dia 21 embarquei para minha primeira ultra maratona, fiz a estreia em uma prova casca grossa, fui para Visconde de Mauá no Rio de Janeiro onde dia 23 rolou a Endurance Challenge Ultra Trail das Agulhas Negras, junto com minha equipe a Kailash Team Neptunia nós enfrentamos os melhores corredores de montanha do Brasil.
Para minha estréia fui prudente, escolhi a distância de 50k trabalhei bastante o corpo e a mente para chegar no grande dia em condições de completar de forma satisfatória a prova mas não vou mentir, o pódio no geral era minha meta.
Nesta temporada já tive altos e baixos, alegrias e tristezas, então tinha em mente que deixaria os problemas de lado e entraria na prova com a mente limpa em busca apenas da corrida perfeita.
Minha largada estava programada para 6h da manhã, horário em que não estou acostumado a correr, mas acredito que a maioria ali também não estava, nos primeiros minutos precisaríamos de lanternas para iluminar a trilha inclusive era obrigatório manter as luzes acesas até as 7h da manhã.
Para esta prova acredito que dentro de minhas possibilidades fiz tudo certinho, cheguei com antecedência, descansei, me alimentei bem, fiz nos dias anteriores à prova uma hidratação extra  e só me restou esperar a hora da largada para tentar colocar em prática tudo que fiz durante os treinamentos.
Então no dia marcado, finalzinho da madrugada lá fomos nós para diversão, minha maior tensão era por conta do clima, normalmente mesmo em temperatura amena já sinto muito frio, lá na montanha com o dia para clarear meu medo era de ter que largar com muito agasalho mas logo nosso "mananger" Tani Orregia, chegou em nosso QG voltando da largada dos atletas que partiram para os 80k que aconteceu as 4h da manhã e foi me avisando, "fica tranquilo, não esta tão frio, teve atleta largando agora a pouco de regata" achei estranho mas se ele falou então eu acredito.
Fomos para arena central do evento, apesar das dicas do Tani, levei de tudo um pouco, camisa de manga cumprida, manga curta, regata, manguito, luva, gorro, protetor de orelhas, viseira e mais minha mochila de hidratação e suplementação bem como todos os ítens obrigatórios, chegando no local da largada vi que realmente não estava muito frio mas ainda assim fiz a seguinte combinação, regata+manguito+protetor de orelha+luvas assim ficou fácil pois a medida que fosse esquentando poderia ir tirando peça por peça sem ter que parar, guardando tudo nos versáteis bolsos da minha bermuda Race Comp.
Bem, 5 minutos para largada, o coração acelerado, muitos abraços, apertos de mão e uma vibe de outro mundo tomou conta do ambiente, meus amigos mais próximos me desejaram "uma boa corrida" mas o parceirão Valmir Lana Junior foi um dos últimos a falar comigo, ele disse assim " vai que essa é sua", depois para finalizar veio nosso "mananger" Tani, ele apertou a minha mão e falou simplesmente assim "curta a prova", é foi exatamente o que fiz...
Largamos para alguns kms de estrada em direção as montanhas este trecho foi em uma leve subida até alcançarmos o início das trilhas, neste ponto a prova começou de verdade, como me mantive entre os ponteiros logo estava em 2º lugar geral, sendo que o paranaense Leonardo Meira era o líder, não me preocupei em forçar neste ponto, pois minha estratégia era de passar por ali tranquilo e forçar depois nos trechos de velocidade, logo veio um companheiro de equipe, Ivan Pires, o cara é insanamente técnico, abri passagem e dei um tchau, rapidamente ele deve ter alcançado o Leonardo e ambos sumiram de vista, segui firme e passei este ponto sem mais problemas, saindo da trilha fechada pegamos um bom trecho que era possível enxergar bem longe, a dupla realmente abriu caminho nas trilhas escuras e sumiram, só me restou esperar o meu momento.
Logo que a corrida começou a desenvolver, em um dos tantos rios que atravessamos acabei errando caminho um pouco, achei que o correto seria seguir por dentro do rio mas estava enganado, logo percebi e comecei a voltar, nisso perdi alguns segundos e também uma posição, o GIGANTE do BOPE Raphael Sodré me passou mas ficou no visual, me aproximei mas não forcei passagem até para não atrapalhar meu adversário amigo e não afobar devido ao erro e a perda de uns segundos, novamente entrei no ritmo esperei o momento certo e ultrapassei o Sodré, fui abrindo aos poucos e logo veio o PC 1 que anunciava a saída da trilha e começo do estradão, de começo um pequeno trecho de asfalto, quando olhei para frente não acreditei, a dupla de fujões estava ao alcance de meus olhos, alguns poucos segundos a frente tentando se esconder em meio a neblina baixa... botei a mira nos caras e apertei o passo acredito que com uns 2 ou 3 km eu pulverizei esta pequena diferença e assumi a ponta.
Olhei para meu GPS, 13km era a distância que estávamos, dai pensei, é agora? Bem resolvi socar a bota ir para um voo solo de 37km (que depois viraram 41km) fui no meu ritmo mas abrindo aos poucos dos meus agora perseguidores, alimentei, hidratei, passei nos outros postos de controle, subi, desci e nada da galera que vinha depois de mim aparecer, foi muito massa vibrar com a liderança, visualizar paisagens deslumbrantes e seguir para a linha de chegada com a quase certeza de uma vitória.
Chegando no km 50 vi que existia um erro de informação, o circuito teria um pouco mais do que o planejado, faltava agora uma trilha muito legal com cerca de 4 km, neste momento lembrei de um artigo que já li do Manuel Lago experiente ultramaratonista que abordou em um site informações de diferença em distâncias nas corridas em montanha , resolvi que isso seria só mais um obstáculo.
Segui firme nas trilhas finais, onde peguei um enorme engarrafamento dos atletas das distâncias menores mas esses gentilmente abriam passagem, cruzei o último rio com direito a mergulho para purificar a alma e o corpo, e pronto, FUI CAMPEÃO DE MINHA PRIMEIRA ULTRAMARATONA, FOMOS CAMPEÕES DA ENDURANCE CHALLENGE AGULHAS NEGRAS.
Felicidade não se compra, se conquista.
Obrigado a todos os envolvidos em meus projetos esportivos, familiares, amigos patrocinadores e todos que torcem por mim, esta vitória é nossa.
Dai veio a segunda feira, trabalho, boletos para pagar, recuperação em andamento... aí eu me pergunto.
O que vem agora???
























2 comentários:

  1. Ernani boa noite, parabéns garoto vc fez por merecer essa vitória, muito bom te rever em Visconde de Mauá...A pergunta final que vc faz o que vem agora? Que tal correr uma prova de 24 horas??? rsss...Abs e boa recuperação.

    Jorge Cerqueira
    www.jmaratona.com

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    1. Olá Jorge boa tarde meu amigo.
      Olha realmente uma prova de 24 horas deve ser um baita desafio mas ainda não tenho condições de correr tanto, ao contrário do que temos visto aos montes por ai eu não irei pular fases, fiz muitas provas curtas, muitas médias, depois algumas maratonas e agora ultras, preciso ir devagar para ter uma base solida e consistente, acredito que no futuro serei capaz de correr tanto quanto você mas no momento me cabe apenas me preparar mais e melhor. Pode anotar, ainda nos encontraremos em um desafio desses de 24h, obrigado pela dica, grande abraço e bom final de semana.

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